O homem no mundo – Livro dos Espíritos – (Um Espírito Protetor – Bordeaux, 1863)
Um sentimento de piedade deve sempre animar os corações daqueles que se reúnem sob o olhar do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, portanto, os vossos corações; não deixeis que pensamentos fúteis ou mundanos os perturbem.
Elevai o vosso Espírito até aqueles a quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as disposições necessárias, possam lançar muitas sementes para germinar em vossos corações, e neles produzir os frutos da caridade e da justiça.
Não creiais, entretanto, que ao vos exortar incessantemente à prece e à evocação mental, queiramos vos propor uma vida mística, que vos mantenha à parte das leis da sociedade na qual estais condenados a viver.
Não. Vivei como os homens de vossa época, como devem viver os homens: sacrificai-vos às necessidades, às frivolidades de cada dia, mas sacrificai-vos com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Fostes chamados a entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres antagônicos: não melindreis a nenhum daqueles com quem vos encontrardes. Sede alegres, felizes, mas com a alegria de uma boa consciência e a ventura do herdeiro do Céu, que conta os dias que o aproximam da sua herança.
A virtude não consiste em vestir-se com aspectos lúgubres e severos, em recusar os prazeres que a vossa condição humana permite. Basta referir todos os vossos atos ao Criador, que vos deu a vida. Basta, ao começar ou terminar uma tarefa, que eleveis o pensamento ao Criador, e Lhe pedir, num impulso da alma, a Sua proteção para executá-la ou a Sua bênção para a obra terminada.
O que quer que façais voltai-vos à fonte suprema. Nada façais sem que a lembrança de Deus venha purificar e santificar os vossos atos.
A perfeição, como disse o Cristo, está inteiramente na prática da caridade sem limites, pois os deveres da caridade se estendem a todas as posições sociais, desde a menor até a mais elevada.
O homem que vivesse isolado não teria como exercer a caridade. Somente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais difíceis, é que ele encontra a ocasião de praticá-la.
Aquele que se isola se priva, voluntariamente, do meio mais poderoso de aperfeiçoamento: tendo que pensar apenas nele mesmo, sua vida é a de um egoísta.
Não imagineis, então, que para viver em comunicação constante conosco, para viver sob os olhos do Senhor, seja preciso entregar-se ao cilício e cobrir-se de cinzas.
Não, mais uma vez, não.
Sede felizes segundo as necessidades humanas, mas que em vossa felicidade não entre jamais um pensamento, um ato que possa ofender a Deus ou velar o rosto daqueles que vos amam e vos dirigem.
Deus é amor e abençoa aqueles que amam santamente.
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