Muito obrigado, mamãe – Luís Alberto veio preparado espiritualmente para vencer e, realmente, venceu a provação de uma doença prolongada e incurável, que se instalou nos albores de sua adolescência.
Foi vitorioso porque revelou em todo o transcorrer da enfermidade muita resignação e fé — apesar de tão jovem, estando na faixa dos 10-11 anos de idade —, conforme nos relatou seu pai, residente em Rio Grande, Rio Grande do Sul, em atenciosa missiva:
“Não se lastimava por sofrer e procurava sempre dar ânimo à mãe, que fraquejava ante o sofrimento do filho, acompanhado por nós, instante a instante, durante 1 ano e 5 meses, intermediado por ilusões e decepções. Era católico e sem que saibamos a origem, tinha quase idolatria por Santa Rita de Cássia, dirigindo a ela os seus anseios e agradecimentos. Essa fé sobressaiu quando, em seu leito de morte, rezava por sua própria inspiração e em voz alta, para assim “abafar” a dor que a doença lhe infligia.
Na noite em que desencarnaria, num hospital de Porto Alegre, tranqüilo e sem dores, antes de dormir chamou a mãe para junto de si e, na presença da vó Silvana, que também o acompanhava, passou a mão pela face da mãe e pediu-lhe para que não chorasse por causa dele, que ela era a mãe mais bonita do mundo e ele gostava dela alegre e sorridente.
Isso seriam 23 horas; às 3,30 da madrugada de 31 de março de 1976, expirou após um “sono sereno.”
Esta admirável conduta, de uma alma forte e amorosa, ainda se reflete em sua enternecedora carta mediúnica — psicografada por Chico Xavier, também em uma madrugada, aos 8 de abril de 1983, na reunião pública do GEP, em Uberaba —, que nada diz da vitória espiritual alcançada, constituindo apenas um belíssimo hino de gratidão filial.
Com citações fiéis de fatos ocorridos 7 anos antes, na intimidade do lar, ele assim se expressou:
Querida Mãezinha, peço-te me abençoe.
Mãe, o pai está igualmente em minha lembrança e em meu reconhecimento.
Felicito-te a coragem, vencendo as distâncias, na expectativa de ouvir algumas palavras do teu filho.
Que poderia, porém, falar-te, quando te ouço a cada instante pelo radar do coração?
Continua falando-me, sim, reafirmando-me o teu amor e a tua confiança.
Estimaria que os irmãos queridos me vissem agora, distante daquela farmácia ambulante em que me transformara. Revejo o Luiz Henrique, o Cláudio, o Sérgio, a Luciane e a Andréa com enternecimento e com aquela ternura na qual nos criaste, ensinando-nos a respeitar o nome de Deus e a preparar-nos para sermos pessoas úteis na vida.
Lembro-me de tua dor silenciosa quando, decerto, a autoridade médica te falou pela primeira vez na doença que me estragaria o sangue, até deformá-lo inteiramente. Perguntei por que choravas, mas me disseste que tu mesma não sabias.
Então, Mãezinha, comecei a ver-me no espelho de tuas retinas, sempre molhadas. E rememoro a luta em que entraste, noite a noite, à maneira de um soldado infatigável em conflito com a morte que vinha chegando devagarinho.
Não me lembro de haver escutado a palavra “leucemia” de teus lábios, porque sabias trazer-me sempre o remédio da esperança.
Mas as injeções foram adquirindo a expressão de espinhos dolorosos e entendi, por fim, que me apagava, ao modo de uma vela que vacila com a brisa leve até consumir-se de todo.
Muito obrigado, Mamãe, por tudo.
Muito obrigado é tão pouco para definir o agradecimento que transborda, mas são as duas palavras que te oferto, recheadas dos beijos que não te dei.
Deus te recompense pelas noites de vigília, nas quais me observavas os olhos famintos de repouso. Aqueles travesseiros sempre mudados, aquelas exigências de seu menino, aqueles gemidos que te buscavam a atenção e aquelas petições constantes de melhoras que realmente não me podias dar.
Tudo passou., mas ficou a saudade, que em mim é presença incessante Crê, Mamãe querida; se eu pudesse, teria ficado; teria ficado para ser mais teu, depois de conhecer-te na dedicação com que te entregavas a mim, para que eu não sofresse…
Teria ficado para contar aos meus irmãos a história de tua bondade e de teu carinho, que só um filho doente consegue conhecer, mas, reconheci que as tuas preces do silêncio me entregavam a Deus…
Era para mim uma dor sem limites aquela de notar-te a angústia sem a possibilidade de consolar-te… Um dia veio com mais aflição no peito…
Observei que uma nuvem me envolvia, e então passei às orações sem voz.
Pedi a Deus que desse o que fosse justo e parece que comecei a dormir contra a vontade.
Do meio da neblina destacou-se um rosto com um sorriso e ouvi a voz que me dizia: — Agora, meu filho, vamos ao repouso. Vem aos braços da vovó Nair…
A emoção me tomou o íntimo e creio que lágrimas me banharam a face.
Eram fortes os braços que me tomaram e aquele regaço acolhedor, que me fazia pensar em teu carinho, me asserenou o coração.
Descansei, dormindo, para despertar muito depois num lar novo, do qual regresso para tranqüilizar-te e desejar-te, extensivamente a meu pai e aos irmãos, toda a felicidade no tamanho possível que a felicidade possa ter.
Mãezinha, estou quase bem, não fosse a falta de casa. Não posso, porém, ser ingrato à vovó Nair e à vovó Ana Maria que me tratam com tanta ternura, e por isso peço-te, tanto quanto rogo a todos os nossos, não se afligirem a meu respeito.
A vó Nair possui uma benfeitora, na pessoa da irmã Antonina Xavier, e estamos sempre confortados pela esperança e pela oração.
Mãe querida, aqui termino. Ao papai e aos manos muito amor, como sempre, e contigo, deixa o próprio coração o teu filho que a vida arrancou às sombras da morte, a fim de amá-la sempre mais, sempre o teu
Luís Alberto (Luís Alberto Canto da Rosa)
Notas e Identificações
1 – Mãezinha e pai — Casal Vera Maria Carvalho da Rosa – Vidalberto Canto da Rosa.
2 – Estimaria que os irmãos queridos me vissem agora, distante daquela farmácia ambulante em que me transformara. — Durante a enfermidade, ele tomava, diariamente, vários medicamentos.
3- Luiz Henrique, Cláudio, Luciane, Andréa e Sérgio — Os quatro primeiros sãos irmãos e Sérgio é seu primo. Sr. Vidalberto chama atenção para a exatidão dos nomes: Luiz Henrique, grafado com Z, e, no final da carta, Luís Alberto, com S.
4 – Não me lembro de haver escutado a palavra “leucemia” de teus lábios — Seu progenitor, em carta, explicou-nos: “Nós, durante o tempo da enfermidade, evitamos por todos os meios que ele soubesse ser porta-dor de leucemia e o que ela significaria. Só tomamos conhecimento de que ele sabia da gravidade desta moléstia após sua morte, pelo seu médico assistente, Dr. Renato Failace. Com os olhos marejados de lágrimas, Dr.
Failace dizia-me que perdera mais um cliente, mas acreditava que o mundo perdeu o que seria um grande cidadão. E concluiu: —Esse menino foi um forte. Pediu-me não dizer aos seus pais que sabia ser portador de leucemia e que iria morrer! “
5 – E então passei às orações sem voz. — Conforme vimos, nos últimos meses de sua vida física, orava em voz alta.
6 – Vovó Nair — Nair Colvara de Carvalho, avó materna já desencarnada.
7 – Vovó Ana Maria — Benfeitora espiritual não identificada.
8 – A vó Nair possui uma benfeitora, na pessoa da irmã Antonina Xavier — A respeito desta benfeitora, senhor Vidalberto informou-nos: “Diversas pessoas, de avançada idade, nos afirmaram ter vivido na localidade de Cerrito Velho, hoje Pedro Osório, uma senhora boníssima, chamada Antonina Xavier, que também residiu em Capão do Leão, município de Pelotas. Graziella Rodrigues de Arruda, prima da vó Nair, hoje com 80 anos, disse-nos ainda que Antonina Xavier benzia os enfermos e aplicava passes. Foi muito amiga de sua família, e era muito boa para ela e vó Nair, na época meninas pequenas, criadas juntas e residentes em Cerrito Velho.”
9 – Luís Alberto Canto da Rosa — Nasceu a 04/3/1965, em Rio Grande, RS. Cursava a 4.ª série do 1.º Grau, quando foi acometido de leucemia.
10 – Comentando os benefícios desta carta mediúnica, senhor Vidalberto escreveu-nos: “A repercussão da mensagem na família, e especialmente entre nós, os pais, foi mais que um alento, foi um reviver!”
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Resiste à tentação. Livro: Pão Nosso
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